O QUE O ATUAL ALUNO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DEVE APRENDER?
Um estudante de Engenharia Elétrica precisa, desde quando entra na faculdade, se preparar para atuar em um futuro extremamente dinâmico.
Um estudante de Engenharia Elétrica precisa, desde quando entra na faculdade, se preparar para atuar em um futuro extremamente dinâmico. Embora ele possa se atualizar a qualquer momento, os conhecimentos obtidos durante a graduação serão fundamentais para que ele possa se destacar no mercado de trabalho, recebendo o retorno do que investiu durante a sua vida universitária.
Este artigo apresenta uma reflexão sobre o ensino de Engenharia Elétrica e como ele se relaciona com prováveis desafios que um engenheiro eletricista enfrentará em sua profissão. Seus autores, dois engenheiros eletricistas formados em períodos diferentes, utilizam, aqui, suas próprias experiências como estudantes e profissionais, já que estagiaram, se formaram, foram selecionados e, hoje, também contratam e treinam engenheiros recém-formados para trabalharem com eles.
> A Engenharia Elétrica
> O mercado de trabalho do engenheiro eletricista
> A formação do engenheiro eletricista
> Conclusão
A Engenharia Elétrica
A Engenharia Elétrica trabalha com a geração, transmissão, distribuição e conversão da energia elétrica, utilizando como ferramentas básicas a Matemática, a Física e a Química. No ciclo profissional, o aluno deste curso estuda a teoria de circuitos, o eletromagnetismo e a eletrônica. A Engenharia Elétrica, como uma área independente, surgiu em meados do século XIX, quando iniciaram a comercialização, a distribuição e a utilização da energia elétrica.
No Brasil, a Engenharia Elétrica é uma graduação de nível superior, com duração prevista de cinco anos. A sua grade curricular é dividida em dois ciclos, sendo o primeiro o básico, cuja matriz curricular é composta, principalmente, por disciplinas da área de ciências exatas, como Matemática, Física e Química. A partir do terceiro ano se inicia o segundo ciclo, que é o profissional, com disciplinas específicas da área elétrica, como:
- Circuitos elétricos;
- Eletrônica aplicada;
- Eletrônica de potência;
- Máquinas elétricas;
- Materiais elétricos;
- Sistemas de controle;
- Sistemas digitais;
- Sistemas de potência;
- Telecomunicações.
O mercado de trabalho do engenheiro eletricista
Apesar da importância da eletricidade em nossas vidas, a globalização da economia gerou um crescimento em todos os países da oferta de bens e serviços, aumentando a competição entre as empresas e os seus profissionais. Graças a isso, novas tecnologias de comunicação surgiram, impulsionando incrivelmente a produtividade do trabalho. Dessa forma, onde trabalhavam três engenheiros, hoje apenas um é necessário, não sendo mais a posse de um diploma e o registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) garantias de um emprego na área.
Segundo dados publicados, em 2012 havia 713.558 estudantes nos cursos de Engenharia no Brasil, sendo que, deste total, 267.512 ingressaram naquele mesmo ano, com 78,5% matriculados em faculdades particulares. Ainda no mesmo ano, 54.042 estudantes concluíram a graduação, 61,9% em instituições privadas e 38,1%, em públicas. Atualmente, muitos estudantes buscam a engenharia não para atuar na profissão, mas como meio para obtenção de um diploma de curso superior, com o objetivo de obter melhores remunerações. Com o aumento na oferta de cursos de engenharia em geral, e Engenharia Elétrica em particular, muitos profissionais da área elétrica entram na faculdade para buscar uma promoção na própria empresa onde já trabalham, passando da função de eletricista ou técnico para a de engenheiro eletricista.
A formação do engenheiro eletricista
Um engenheiro eletricista deve ter profundos conhecimentos em teoria dos circuitos, eletromagnetismo e eletrônica. À medida que ele se desenvolve profissionalmente, seu conhecimento se aprofundará em uma única área em detrimento das outras. Embora nem todos estes profissionais sejam especialistas, não é possível conhecer absolutamente tudo da área, por isso é muito importante que, durante a sua graduação, ele aprenda de fato sobre os três pilares da engenharia elétrica, para, com isso, adquirir uma base sólida de conhecimento com a qual construirá a sua carreira.
Tomando como exemplo uma área da engenharia extremamente aquecida, a geração solar fotovoltaica, um estudante recém-formado com sólidos conhecimentos teóricos em pouco tempo poderá entender bastante deste segmento, já que os fundamentos desta tecnologia são as células fotovoltaicas (eletrônica, semicondutores), os inversores solares (eletrônica de potência, semicondutores) e os arranjos fotovoltaicos (teoria de circuitos). Por outro lado um estudante que queimou etapas e se dedicou a estudar esse mesmo tema em detrimento de conhecimentos básicos (o famoso falso dilema entre teoria e prática), terá, no futuro, dificuldades em acompanhar a entrada de novas tecnologias no setor, já que a base para a aquisição de novos conhecimentos é uma formação sólida justamente nos princípios da eletricidade: o eletromagnetismo, a teoria de circuitos e a eletrônica.
Sem demérito de ninguém, todo estagiário já sofreu ao perceber o quão pouco é útil o seu conhecimento em uma fábrica ou canteiro de obras, quando comparado à destreza e à eficiência de seus colegas eletricistas. Mas, com o tempo, ele vai compreender que esta é uma comparação entre laranjas e maçãs, já que o que se espera de um engenheiro não é que ele seja habilidoso ao desmontar um motor, emendar um fio ou reformar uma cabine primária. A função de um engenheiro, para isso ele estudou, é implantar novos processos, desenvolver novas tecnologias e resolver com mais eficiência velhos problemas.
O engenheiro não é um supertécnico e, caso o estudante de engenharia elétrica estude para sê-lo, ele se frustrará, porque terá escolhido um caminho mais longo do que seria necessário para alcançar os seus objetivos.
Na mesma linha de raciocínio, estudar visando o tema da moda, a última tecnologia, o assunto do momento é usar a lanterna para iluminar o passado. A perspectiva profissional de um engenheiro eletricista se estende por, aproximadamente, 35 anos. Neste prazo, a única coisa certa é a obsolescência do que hoje é moderno. Em 2040, provavelmente, a energia fotovoltaica, a indústria 4.0 e a internet das coisas serão tecnologias tão disruptivas quanto os inversores de frequência ou as lâmpadas LED são atualmente. Mas isso não significa que os profissionais envolvidos com estes assuntos estarão ultrapassados! Só sai do mercado quem não se atualiza, sendo a grande oportunidade de atualização, por mais paradoxal que seja, a graduação, pois é lá que a base do conhecimento profissional é formada. Sem que aquelas matérias básicas, muitas vezes desprezadas, sejam muito bem aprendidas, não será possível compreender o funcionamento de um transformador, o comportamento de uma malha de aterramento, as características de um protocolo de comunicação ou os aspectos básicos de uma linguagem de programação.
Obviamente, um bom engenheiro eletricista necessitará de outras habilidades para desempenhar bem suas funções profissionais e, futuramente, ascender a funções gerenciais. Mas certos conhecimentos deverão ser aprendidos através de outros meios, já que um estudante chega à faculdade após anos de estudo, envolvendo matérias como Português, História e Biologia, cuja função é formar cidadãos e seres pensantes. Ao mesmo tempo, não se advoga que o aluno de Engenharia Elétrica deixe de ler livros sobre assuntos diversos, frequente o teatro ou realize outras atividades que aumentem a sua cultura geral. Conhecimento sempre será poder e estudantes que interagem de forma intensa com seus professores e colegas de faculdade desenvolverão relacionamentos proveitosos para a sua vida profissional.
Conclusão
Bons empregadores contratam profissionais pelo potencial que eles possuem. Para isso, eles avaliam o que os candidatos aprenderam durante a sua graduação. É certo que existem empresas que procuram profissionais já com conhecimentos práticos, mas, neste caso, o emprego não trará muitas perspectivas, já que o empregador está contratando alguém mais pelo baixo salário que deseja pagar, em comparação ao que pagaria por um profissional mais experiente. Um princípio básico empregado pelos autores deste artigo quando entrevistam estudantes para estágio é perguntar o que eles estão estudando naquele momento. Um bom aluno muito provavelmente será um bom profissional. Mesmo que não saiba a fundo uma determinada matéria, ao menos ele deverá saber do que ela trata e responder a pergunta com propriedade.
A graduação é um momento especial na vida de qualquer profissional, por isso ela deve ser vivida com toda intensidade, principalmente fazendo o que deve ser feito, estudar as matérias que profissionais já formados consideram como o conhecimento básico. Ninguém está impedido de fazer a mais, mas desde que não troque o certo pelo duvidoso, deixando de estudar o básico para investir em conhecimentos que serão obtidos naturalmente durante, aí sim, a sua vida profissional.
Artigo por: Sergio Roberto Santos e Renato Sperlongo